Habitat estéril para porcas deixa impressão em porco
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Habitat estéril para porcas deixa impressão em porco

Dec 19, 2023

Universidade de Uppsala

Em um novo estudo, pesquisadores da Universidade de Uppsala, na Suécia, juntamente com colegas da Universidade de São Paulo, Brasil, investigaram o impacto que um ambiente árido para as porcas deixa na próxima geração. Os porcos do estudo foram criados no Brasil e mantidos de acordo com os padrões de reprodução daquele país. O ambiente desconfortável e desestimulante das porcas trouxe consigo diversos tipos de mudanças no epigenoma de sua prole.

Em muitas partes do mundo, as porcas são mantidas confinadas em estábulos de concreto enquanto estão grávidas. Este é um ambiente ruim para os porcos, tanto em termos de conforto quanto de estimulação. Como o ambiente induz estresse no animal, muitos porcos desenvolvem comportamento repetitivo ou estereotipado.

Comportamentos repetitivos são comuns em animais domésticos que carecem de condições de vida suficientemente benéficas (por exemplo cavalos, galinhas e cachorros), mas também ocorrem em humanos. Em humanos, por exemplo, um comportamento repetitivo pode envolver roer unhas, arrancar cabelos ou cutucar ou rasgar excessivamente a pele.

No novo estudo, os pesquisadores investigaram como o ambiente de uma porca grávida afeta o cérebro de sua prole. Eles também investigaram se o comportamento estereotipado de uma porca estressada afeta o cérebro de seus leitões.

O estudo foi realizado no Brasil e envolveu 30 porcas, todas alojadas em baias de concreto (de acordo com os padrões convencionais de criação naquele país). Com 90 dias de gestação, metade das porcas foram transferidas para um ambiente enriquecido com o feno trocado diariamente. O resto das porcas tiveram que ficar na mesma baia de concreto onde viviam diretamente no chão. Algumas dessas porcas, mas não todas, desenvolveram comportamento estereotipado. Posteriormente, foram realizadas análises epigenéticas em 18 dos leitões.

Uma mudança epigenética é uma mudança no genoma que não altera o código genético. As modificações epigenéticas, por outro lado, são sobre quais genes são ativados e desativados e quando. O epigenoma é influenciado pelo ambiente externo, como alimentação, estilo de vida e fatores ambientais.

Os pesquisadores puderam ver mudanças epigenéticas no cérebro dos leitões cujas mães tiveram que permanecer no ambiente mais estéril durante todo o período de gestação. Alterações foram encontradas nas partes do cérebro relacionadas à emoção, aprendizado, memória e resposta ao estresse, como a amígdala, o hipocampo e o córtex pré-frontal. Os resultados mostraram que enquanto o epigenoma no hipocampo e no córtex pré-frontal era influenciado principalmente pelo ambiente da mãe, o epigenoma da amígdala estava mais intimamente ligado ao comportamento estereotipado da porca. As vias moleculares e os mecanismos relacionados às mudanças epigenéticas desencadeadas pelo ambiente materno ou comportamento estereotipado no cérebro dos leitões também foram diferentes:i) O ambiente materno tem relação com efeitos no desenvolvimento da crista neural no córtex frontal dos leitões. A crista neural é um importante centro de sinalização para o desenvolvimento do cérebro.ii) Tanto o ambiente materno quanto o comportamento estereotipado materno têm uma relação com os efeitos no metabolismo do etanol e na sinalização mediada por lipídios no hipocampo do leitão.iii) O ambiente materno tem uma relação com os efeitos no poli/despolimerização de microtúbulos na amígdala de leitões. A poli/despolimerização de microtúbulos afeta processos fundamentais na neuroplasticidade, como formação de memória e aprendizado, especialmente em espinhas dendríticas.

"Este artigo mostra como diferentes condições durante a gravidez em porcos, neste caso um ambiente ruim ou comportamento estereotipado, podem ter efeitos variáveis ​​em diferentes regiões do cérebro durante o desenvolvimento da prole. Curiosamente, esses efeitos parecem ser mediados pela programação epigenética", explica Carlos Guerrero-Bosagna, Professor Sênior do Departamento de Biologia Organismal, Universidade de Uppsala.

O estudo é o primeiro a investigar os efeitos neuroepigenéticos da herança materna na prole de porcos e o primeiro a investigar os efeitos neuroepigenéticos do comportamento estereotipado materno em qualquer mamífero.