Investimento em conservação dos EUA direcionado para a expansão do eucalipto no Cerrado brasileiro
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Investimento em conservação dos EUA direcionado para a expansão do eucalipto no Cerrado brasileiro

Nov 24, 2023

Mark Wishnie ficou satisfeito ao ouvir a notícia: Joe Biden anunciou seu apoio a um investimento de US$ 50 milhões em dívidas para o projeto de fazendas madeireiras que ele dirige no maior banco de investimentos da América Latina.

O discurso do presidente dos EUA em 20 de abril no Fórum das Principais Economias sobre Energia e Clima deu início a uma campanha de financiamento de US$ 1 bilhão do Timberland Investment Group (TIG), uma subsidiária de US$ 5,6 bilhões do BTG Pactual que compra grandes extensões de terra para cultivar e cortar árvores como uma carteira de investimentos.

Biden prometeu fundos da US International Development Finance Corporation para conservar a Amazônia e outros biomas críticos da América Latina. O Congresso ainda não aprovou os fundos. Mas se for aprovado, o investimento da dívida será amplamente canalizado para a produção em massa de eucalipto no Cerrado brasileiro, descobriu a Mongabay.

"O anúncio foi muito útil para destacar o papel das florestas produtivas bem manejadas para ajudar a gerar benefícios climáticos", disse Wishnie, diretor de sustentabilidade da TIG, à Mongabay em uma entrevista em vídeo exclusiva.

O banco de investimentos vangloria-se da absorção de carbono pelas árvores, mas os críticos dizem que a expansão agressiva da indústria de celulose está poluindo o ar e a água, secando a terra, reduzindo a biodiversidade e desenraizando comunidades. Além disso, uma vez que as árvores são derrubadas e transformadas em celulose, o carbono é liberado novamente.

Uma meta de 300.000 hectares (741.300 acres) de terra do Cerrado, disse a empresa à Mongabay, seria transformada principalmente em fazendas comerciais de eucalipto e pinheiro. Metade da terra seria deixada para a regeneração natural do cerrado, superando a exigência legal de 20%. O salto projetado de 20 a 50% de conservação, disse Wishnie, estabeleceria um novo padrão para a indústria e também pode ser compensado financeiramente com financiamento climático.

O compromisso de conservação de 50% não se estende ao portfólio existente de 1,7 milhão de hectares (4,2 milhões de acres) de florestas na América Latina. A meta da TIG inclui apenas terras recém-adquiridas.

A primeira fase do projeto já está em andamento: uma antiga fazenda de gado de 24.000 hectares (59.300 acres) no estado brasileiro de Mato Grosso do Sul. Os 276.000 hectares restantes (682.000 acres) serão adquiridos nos próximos cinco anos, conforme a Estratégia de Reflorestamento da América Latina se aproxima de sua meta de US$ 1 bilhão.

Em 2021, a TIG abriu seu mais novo escritório em uma cidade rural de 25.000 habitantes chamada Ribas do Rio Pardo, no estado do Mato Grosso do Sul, por meio de sua subsidiária TTG Brasil.

Aqui, a Suzano — empresa líder em papel e celulose da América Latina — está construindo a maior fábrica de processamento de fibra de eucalipto do mundo, com capacidade projetada de produção anual de 2,3 milhões de toneladas de celulose.

A fábrica, chamada de Projeto Cerrado, arrecadou quase US$ 4,5 bilhões em financiamento até agora, até US$ 900 milhões dos quais vêm da Corporação Financeira Internacional do Banco Mundial, que classificou o projeto como de alto risco.

"Este é um projeto de categoria A", diz o portal da IFC, "porque pode causar riscos ambientais e sociais adversos significativos e impactos que podem ser diversos e irreversíveis". Os riscos listados incluem impactos potenciais no habitat natural e na biodiversidade, deslocamento de pessoas, emissões de água e ar, bem como afluxo populacional.

Em dezembro de 2022, 40 ONGs enviaram uma carta conjunta à International Finance Corporation instando-a a vetar o empréstimo.

"A expansão das plantações de celulose para alimentar a fábrica está levando ao declínio da riqueza de espécies e superando os remanescentes do Cerrado", diz a carta. “Essas plantações também causarão desmatamento usando terras previamente convertidas pela indústria de pecuária e empurrando-as para a fronteira do desmatamento”.

No município vizinho de Três Lagoas, outras três fábricas - duas da Suzano e uma da Eldorado Brasil - já produzem mais de 5 milhões de toneladas de papel e celulose de eucalipto por ano, abastecidas pelas plantações de celulose que dominam a área.

Em 2020, a TIG abriu mais um escritório em Água Clara, uma cidade ainda menor, a menos de 100 quilômetros (62 milhas) de distância entre Ribas do Rio Pardo e Três Lagoas. Os dois escritórios "localizados estrategicamente" no Mato Grosso do Sul são onde estão adquirindo novos terrenos.