Caminhos da Conversa
LarLar > Notícias > Caminhos da Conversa

Caminhos da Conversa

Aug 16, 2023

Em seu livro Descobrindo a Pessoa Humana, o falecido filósofo polonês Stanisław Grygiel descreve sua longa amizade com São João Paulo II. Ele conta sobre as muitas conversas filosóficas que tiveram enquanto caminhavam pelas trilhas das montanhas polonesas — discussões que ele chama de "caminhos da verdade". Grygiel escreveu sua dissertação sob a direção de Karol Wojtyła e, anos depois, quando Wojtyła se tornou papa, chamou Grygiel para um cargo em Roma, no Pontifício Instituto João Paulo II. Grygiel ensinou lá por quase quarenta anos. Em suas muitas caminhadas pelas montanhas, os dois amigos falavam frequentemente do homem e de Deus. De vez em quando, interrompiam a conversa com uma oração silenciosa que transformava a "troca de palavras em escuta atenta da Palavra".

Minhas lembranças de Grygiel, que morreu em 20 de fevereiro em sua casa em Roma, são principalmente lembranças de conversas. As reflexões de Grygiel sobre a pessoa humana abriram caminhos para o mistério de Deus. Ele costumava usar histórias e anedotas para manter as discussões próximas da experiência concreta. Por exemplo, ele gostava de contar a história de um comissário comunista que visitou uma aldeia de camponeses nas montanhas polonesas para ensiná-los sobre o ateísmo. Reunindo-os, o comissário demonstrou que Deus não existia e, além disso, que Deus não tinha o direito de existir. Então, durante o período de perguntas e respostas, um dos camponeses se levantou: "Muito bem, Excelência, nós entendemos que Deus não existe e não tem o direito de existir; mas, você sabe, somos pessoas simples e não nos preocupamos nós mesmos com assuntos tão elevados; prefiro perguntar-lhe: Por que não há pregos em nossas lojas? O comissário respondeu que, devido à necessidade de ferro em outras áreas do país, não havia pregos em suas lojas e não havia direito de haver pregos em suas lojas. O mesmo camponês interveio novamente: "Obrigado, Excelência, pela sua demonstração. Mas quer saber? Se for às nossas lojas, verá que estão cheias de pregos."

Grygiel usou essa história para demonstrar que, se não partirmos da experiência concreta do homem, é possível provar qualquer coisa e seu contrário – até mesmo o que é falso. O comissário fala da ausência de pregos nas lojas sem ter ido às lojas, assim como nega a existência de Deus sem ter ido ao lugar onde se revela o sagrado. É na comunhão das pessoas, insistia Grygiel, que a vida humana se abre ao seu grande mistério. Não se pode encontrar Deus fora da vida diária. Pelo contrário, o encontro com Deus é inseparável do encontro com o próximo.

Em sua exegese do poema "Tríptico Romano" de João Paulo II, Grygiel se debruça sobre a imagem inicial da obra. O narrador do poema vê um riacho de montanha descendo pela floresta e se pergunta: "Riacho, onde você me encontra?" A corrente torna-se um convite à procura da fonte de onde brota toda a criação. A ascensão do homem torna-se uma ascensão através da memória para o início, para o Criador e fonte de todos os dons. Grygiel termina sua exegese do poema convidando-nos a adorar o mistério. Pois é isso que fazemos quando, após uma longa subida, encontramos a nascente da montanha: ajoelhamo-nos para beber dela.

Na visão de Grygiel, Deus é como uma fonte de frescor vivificante que tudo renova e torna frutífero. A beleza da primavera nos energiza para o trabalho, e o trabalho nos eleva. Grygiel frequentemente citava Henri de Lubac: "Não sei se acredito. Mas de uma coisa sei: quero acreditar!" O sagrado surge então como um horizonte para o qual nos dirigimos, escalando os caminhos da verdade, atraídos por sua beleza.

Obstáculos não faltam nesse caminho. Mas diante desses obstáculos, a esperança de Grygiel não diminuiu. Certa vez, quando estávamos passando por uma situação difícil juntos no Instituto João Paulo II, ele me telefonou e leu as primeiras linhas do poema "Patmos" de Friedrich Hölderlin, instando-me a ler o resto antes de desligar. Eu fiz: "Deus está próximo / Mas difícil de agarrar. / Onde há perigo, / O resgate também cresce." Esta é a lógica da cruz: em meio ao nosso sofrimento e perda está a salvação de Deus.